sábado, 28 de janeiro de 2012

Yes, nós temos muamba!

Não estou certo se isso é necessariamente motivo de orgulho, ou mesmo novidade, mas deu na Folha, na última semana, que, depois dos chineses, somos os maiores sacoleiros da paróquia.

Derramamos pelo mundo nada menos do que US$ 22 bilhões, valor superior aos PIBs de países como El Salvador, Trinidad e Tobago e Turquemenistão - o que evidentemente também não tem a menor importância.

O fato é que brasileiro é bicho vidrado em muamba, vocação herdada de nossos exploradores portugueses, que davam o maior dez em engabelar compatriotas com cravo, canela,  pimenta-do-reino e açafrão trazidos da Índia.

Nos anos 80, enquanto éramos lisos,(melhor ser liso do que caraquento) matávamos o verme comprando o que não presta no Paraguai. Hoje, os tempos são outros. Com o Real pau a pau com o dólar e o preço das coisas pela hora da morte no Brasil, vamos aos States e descobrimos que somos... ricos!

E haja sacola para enfiar: camisa de marca, perfume chique, tênis do bom, e eletrônicos ultramodernos, pela metade do preço. Não tem cão que aguente!

Nessas horas, lembra-se muito bem dos amigos. Há quem diga que dá pra tirar todos os gastos da viagem vendendo bugigangas a parentes e aderentes. Mesmo as vendas assegurando lucro considerável ao sacoleiro, o "cliente" compra  bem mais barato do que se fosse pagar a herética, absurda e desumana carga de impostos cobrada no Brasil.

Pensando nisso, Obama já tratou de aliviar nossa barra. Agora, segundo garantiu, não sofreremos tanto para retirar vistos de permanência. Talvez haja também o entendimento de que não é mais tanto "jogo" para emergentes de nossa estirpe tornarem-se clandestinos na terra do Tio Sam. Pra que? Queremos apenas comprar o que é bom, nos mandarmos de volta para nosso próspero e oneroso país e, quiçá, garantir algum.

Como bom galego, me deu uma vontade lascada de ganhar dinheiro com isso. Vou ali arrumar umas sacolas flutuantes que aguentem a travessia a nado pelo Rio Grande até o Texas.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sobre rabos-de-burro e cangapés


Em sua nonagésima edição, sempre apresentado pelo inoxidável Pedro Babau, o Big Brother é mesmo um sucesso. O programa parece ter acertado em cheio ao apostar em nosso voyerismo tupiniquim, uma vez que no Brasil se para pra assistir até porco sendo capado.

O Grande Irmão inverteu a metáfora de que a TV é uma janela aberta para o mundo. Com o advento desse honorável show da realidade, o mundo é que, do lado de fora, espia o que se passa dentro de uma casa, cheia de subcelebridades instantâneas, dispostas a fazer de um tudo para se autoeliminarem a si próprias. Precisa de mais?

A contribuição do BBB para a humanidade, nos campos da psicologia, dramaturgia e proctologia, é inegável. Há quem compare cada capitulo a uma obra inteira de Guimarães Rosa. Aliás, é mesmo besteira adaptar um livro medonho como Grande Sertão - Veredas, se com muito menos investimento pode-se ter muito mais audiência e merchandising.

Extraordinária é também a capacidade do BBB pautar a mídia e as conversas cotidianas (vide a nossa, aqui). O assunto da vez é um instrutivo caso de abuso sexual, praticado por um dos heróis do Babau, enquanto a vítima dormia o sono dos bebos. A contragosto (ou não, quem sabe?) da produção do programa, o malfeito virou caso de polícia. E o Brasil se pergunta se o ato foi estupro ou consentimento tácito de alguém que queria, mas o álcool agiu primeiro. Quem liga para a corrupção ou a miséria politroante, meu amigo? Isso é muito mais interessante!

Os mais despudorados se sustentam no aforismo de que fiofó de bebo não tem dono. Outros querem que o rabo-de-burro apodreça no chilindró pelo ultraje, cometido às escondidas, sob o olhar atento de milhões de pessoas. Entretanto, o Programa é tão bom que está cheio de anunciantes e pouca gente questiona sua existência, mesmo o BBB apostando sempre no "quanto pior melhor", afinal, é disso que o povo gosta.

Falando em bom gosto, a Globo comprou de vez o UFC, ainda bem que não foi a UFC (Universidade Federal do Ceará). Agora, nas madrugadas de sábado, é pêia até dizer chega! São os gladiadores do século XXI (#orgulho) que só faltam matar um ao outro com técnicas sofisticadíssimas de bundacanastras e cangapés. É um esporte mesmo atemporal. Faria sucesso brincando na Roma Antiga, onde crianças, entre uma colher e outra de mingau de cevada, se distraiam vendo leões devorar os vizinhos. A continuar assim, chegaremos a esse nível já, já!

A propósito, Frei Galvão Bueno anunciou que já somos o terceiro país do mundo em negócios ligados ao MMA. Viva! E eu ainda reclamo dos baixos investimentos em cultura e educação nesse país. Pra que tudo isso, se a TV, concessão pública, nos dá tamanho retorno? Sou mesmo um ingrato! Antes de ser finalizado, finalizo essa crônica com a esperança de que dias melhores virão. Luiza acaba de voltar do Canadá!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Crônica: #CaosEmFortaleza: eu vivi (ou não)


Esse post deveria tratar do otimismo maia para 2012. Entretanto, já que antecipamos as previsões e produzimos nosso próprio caos, resolvi dar meu testemunho a respeito do pânico vivido em Fortaleza na ultima terça. A exemplo do grupo musical que concebeu, em minutos, sublime canção intitulada "Forró do Arrastão", não pude desperdiçar a oportunidade. Perdão.

Foi tudo muito rápido. As coisas me pareciam sob controle até eu entrar no Twitter. Gelei a partir do momento em que vi pessoas de ilibada conduta e credibilidade postarem declarações incontestáveis sobre a Gotham-City-sem-Batman na qual se transformara a cidade.

Muita gente relatando e publicando imagens quase em tempo real -tirando aquela, de 2007 - de ocorrências inéditas em nossa capital, como: assaltos nas paradas de ônibus, acerto de contas entre traficantes, "mirins" no centro.... Meu amigo, o IJF estava lotado!

Quando soube, pelo Terra, que a Mesbla e o Romcy haviam fechado as portas, percebi que estava na hora de me mandar para casa o quanto antes!

Fomos liberados mais cedo do trabalho (o mundo estava mesmo perto de se acabar) e, de saída, pude contemplar cena de rara astúcia, provocada pelo terror: uma colega disfarçando-se com boné e óculos escuros, para não ser identificada por malfazejos como alguém do sexo frágil ao volante.

- Pareço um homem? - perguntou, aflita.
- Não, parece um gay!- respondi, com minha sinceridade contumaz - ela ainda estava de brincos e batom.

No trânsito, eu era o próprio Mel Gibson, em Mad Max, dirigindo naquela cidade sem um pé de pessoa, quando encostou uma moto só os queixos a meu lado. Quase senti a quentura das balas no espinhaço, ao ouvir o que me parecia uma rajada inconfundível de AK-47. A moto saiu pipocando pra tudo que era lado, e eu fiquei sem saber se era mesmo tiro o que ouvia, ou era o motor dela pedindo penico.

Operação de guerra para pegar meu filho na residência de minha digníssima sogra. Meu Deus! Ela mora na Faixa de Gaza, como estava sendo chamada a Varjota. A jornalista que fez o prudente perfil @LeiSecaFortal encerrar as atividades no Twitter testemunhara, há pouco, ocorrência num supermercado, bem pertinho dali. #lascou

Com coragem de um frango e sagacidade de um preá, telefonei, a caminho, pedindo para que não se demorassem na entrega do garoto. Um minuto parado na 8 de Setembro seria uma eternidade!

Inocente, ele chega tranquilo, tranquilo... Eu sorrio, para aparentar calma, com o coração a duzentas batidas por minuto!

- Espera, pai. Esqueci minha pistola d'àgua - disse o menino de quatro anos.

Que hora, hein? Tive vontade de perguntar se ele não tinha uma pistola de verdade, mas preferi rebolá-lo dentro do carro e arrochar no acelerador, sem parar nem pro trem passar.

Sãos e salvos no prédio, já calculava se os miojos, gás, velas e garrafões d'água durariam o longo período que passaríamos confinados, quando cruzei com a vizinha.

- Tá tudo tão calmo... Até parece domingo!- suspirou, entusiasmada.
- Minha senhora, pelo amor de Deus! Não está acompanhando a greve da PM e o #CaosEmFortaleza pelo Twitter? - indaguei.
- Quero lá saber de tuiter, meu fi?! Eu quero é ser feliz! - disse e seguiu despreocupada.

Concordei.

*Baseado em fatos reais e virtuais.