sábado, 2 de fevereiro de 2013

"Pra ser só minha mulher", ou a fineza do brega

Deus me livre de querer tomar o lugar de Thiago de Góes, amigo de longa data e fervoroso defensor dos cantos e contos bregorianos. Mas nessa semana, rememorando clássicos de Roberto,  me deu uma vontade lascada de escrever sobre a música "Pra ser só minha mulher", composição de Ronnie Von (quem diria?), sucesso na voz do Rei na década de 70. Não entendo como eu, tão novo, me lembro de uma praga dessas!

Na verdade, sou doido por essa música, que é brega em todos os sentidos. Inclusive no literal, porque para nós, nordestinos, além de gênero musical, brega é o mesmo que cabaré, inferninho, casa da luz vermelha, como queiram. Creio que a música fala veladamente de um recinto como esse,  ou a que se referiria o verso "nos quartos em que eu não quis dormir"?

Digo, por sinal, que não há combinação mais perfeita do que cabaré e música brega. Dessa relação mutualística brotaram estrondosos sucessos como "Eu vou tirar você desse lugar", de Odair José. Dizem que a canção motivou muita gente a transformar amores fortuitos em permanentes. A maioria dos que conheço não se arrepende!

Na mesma linha, "Pra ser só minha mulher" vai além em termos melódicos e poéticos. Fala, sobretudo, de amor. "Ah, esse amor selvagem, passagem pra loucura e pra dor". Isso é poesia de baixo meretrício da mais alta qualidade, amigo!

E o povo gosta. Certo dia, procurei a pérola no Youtube e mostrei despretensiosamente pruns amigos. Pra que? Todo mundo cantou de cabo a rabo e, por pouco, o lugar não se transformou num verdadeiro brega. Teve gente (não, não fui eu) que se animou até pra dançar.

O clipe que mostrei a eles é de uma regravação feita pelo pernambucano Otto, apelidado de Galego (pura coincidência com o nome deste blog) que canta mal pra moléstia, mas é um grande artista e tem bom gosto. Participam sua ex, e ainda buchuda, Alessandra Negrini (falei que ele tinha bom gosto?) e um improvável Xico Sá, jornalista e escritor conterrâneo, dando uma de ator. No vídeo, Xico se esbalda, arrochando as quengas da rua Augusta. Creio que não cobrou cachê (mais fácil ter pago!)

A música me faz lembrar dos bregas, mas também da infância, quando meu pai enchia a cara na maior classe, ouvindo MPB, Beatles e Roberto e influenciando definitivamente meu gosto musical.

Convido-os a puxar um tamborete, tomar um trago e apreciar o clipe. o