domingo, 25 de dezembro de 2011

Crônica: A revolta do iiiiiiiih

Em Fortaleza, a campanha da Brastemp que, no último mês, levou cordialidade quase primitiva ao caótico trânsito paulistano, teria um quê de fuleiragem.

Com nossa irreverência habitual, não nos contentaríamos com meros sorrisos. Algum gaiato, de uma hora para outra, haveria de soltar um iiiiiiiiiiihh, nossa onomatopeia preferida quando queremos "frescar", provocando uma verdadeira reação em cadeia. Sempre achei que  o iiiiiiiiihh tem relação com nossa ascendência indígena. Nesse dia, ele teria a chance de confirmar a teoria e mostrar do que é capaz.

Forçando um pouco a imaginação, visualizo os "guerreiros" da tribo Trânsito Parado pipocando iiiiiiihhs de carro em carro. Em pouco tempo, poderia-se ouvir em toda parte o som agudo que troaria de ruas e avenidas: ", iiiiiiiih, iiiiiiiih, iiiiiiiiiih, iiiiiiiiiiihh".

Desnudos da sisudez habitual, seríamos como nossos ancestrais, tapebas, tremembés, cariris, redivivos nos iiiiiiiiihhhs intermitentes que agora varrem as periferias, descem a Bezerra até chegar em Caucaia, onde ainda subsistem índios de raça pura.

A metrópole, naquele momento, passaria a ser uma só tribo, pois os índios puros engrossariam o coro dos mestiços da cidade, com a vã impressão de que tudo seria como outrora, quando as pessoas eram mais instintivas e menos robóticas. Tempo em que campanha para incentivar cumprimento entre gente da mesma tribo não precisaria ser inventada, pois já se era cordial por natureza.